31 outubro 2025

Dia 31 - outubro missionário 2025

 

Sexta-feira, 31 de Outubro de 2025

XXX Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)

Rm 9, 1-5; Sl 147; Lc 14, 1-6

 

São Paulo, escrevendo aos Romanos, exprime uma dor profunda e permanente, uma angústia constante no seu coração pelo seu povo, os israelitas. Ele conta os imensos privilégios que lhes foram concedidos: a adopção como filhos, a glória divina, as alianças, a promulgação da lei, o culto e as promessas. No entanto, apesar de tudo isto, muitos não tinham reconhecido o Messias, Jesus Cristo, que provinha da sua linhagem.

A dor de Paulo é palpável. É uma dor que não nasce de um julgamento, mas de um amor profundo e de um desejo ardente pela sua salvação. Esta passagem recorda-nos que a missão não é um exercício clínico e distanciado. Nasce de um coração que se preocupa profundamente, um coração que sofre por aqueles que ainda não encontraram o amor transformador de Cristo. Chama-nos a olhar para além da nossa zona de conforto e a sentir a fome espiritual dos que nos rodeiam, próximos e distantes.

No Evangelho de Lucas (14, 1-6), conta-se a história de um homem que sofre de hidropisia e que Jesus encontra num Sábado. Os chefes religiosos observam-n’O atentamente, ansiosos por encontrar falhas. Mas, Jesus, com a Sua compaixão e sabedoria características, faz uma pergunta simples, mas profunda: «É lícito ou não curar ao sábado?» O silêncio dos doutores da lei e dos fariseus é eloquente. Jesus cura então o homem, demonstrando que os actos de misericórdia e compaixão transcendem até as mais rigorosas interpretações da lei. Isto recorda-nos que os missionários da esperança quebram diariamente as barreiras da indiferença e do legalismo para trazer a cura e a plenitude.

Os missionários da esperança não se limitam a proclamar grandes verdades teológicas, mas a encarnar o amor de Cristo de forma tangível. São chamados a ver o sofrimento do próximo e a responder com compaixão, mesmo quando isso é incómodo ou desafia o status quo.

Ao concluirmos este Mês Missionário, levemos estas reflexões nos nossos corações. Todos nós somos chamados a ser missionários da esperança. Esta não é uma tarefa reservada aos padres, às religiosas ou àqueles que viajam para terras distantes. É a vocação de cada cristão baptizado.

Saímos desta Missa renovados no nosso compromisso de sermos missionários da esperança entre todos os povos. Que as nossas palavras e acções reflictam o amor e a compaixão de Cristo. Sejamos portadores da luz na escuridão, oferecendo uma razão de esperança a um mundo que dela necessita desesperadamente.

Que o Senhor nos abençoe e nos fortaleça na nossa missão. Amén.

30 outubro 2025

Dia 30 - outubro missionário 2025

 Quinta-feira, 30 de Outubro de 2025

XXX Semana do Tempo Comum- Ano Ímpar (I)

Rm 8, 31b-39; Sl 108; Lc 13, 31-35

 

Na sua Carta aos Romanos, Paulo coloca uma questão importante: «Se Deus está por nós, quem estará contra nós?» (Rm 8, 31). Pensemos nisto por um momento. Perante os desafios implacáveis da vida, os sussurros da dúvida, o aguilhão da traição, o medo do desconhecido, Paulo recorda-nos uma verdade fundamental: Deus está do nosso lado. «Deus, que não poupou o Seu próprio Filho, mas O entregou à morte por todos nós, como não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas?» Talvez alguns de nós se sintam hoje como o salmista que grita angustiado, vulnerável, negligenciado, abandonado, esquecido, marginalizado, enquanto outros carregam pesados fardos financeiros e económicos nas suas vidas.

Sim, é verdade! Também Jesus enfrentou ameaças e dores semelhantes, como nos diz o Evangelho de hoje. No entanto, o Salmista dá um belo passo atrás quando diz: «Agradecerei bem alto ao Senhor, louvá-l’O-ei no meio da multidão, porque Ele Se coloca à direita do pobre, para o salvar dos que o condenam” (Sl 108). Mesmo nas profundezas do desespero, o Salmista e Jesus recordam-nos o amor e o poder inabaláveis de Deus. Encontramos o desejo profundo de um coração apaixonado que encontra resistência, uma recordação pungente de que nem mesmo o amor divino consegue forçar a sua entrada.

A mensagem central para nós hoje é a passagem do desespero à alegria, da dúvida à certeza. Seja qual for a nossa posição na vida, sejam quais forem os desafios que estejamos a enfrentar, sejam quais forem as dúvidas que estejam a toldar as nossas mentes, lembremo-nos da afirmação retumbante de Paulo: «Na verdade, eu estou certo de que nem a morte nem a vida, nem os Anjos nem os Principados, nem o presente nem o futuro, nem as Potestades nem a altura nem a profundidade nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que se manifestou em Cristo Jesus, nosso Senhor» (Rm 8, 38-39). Deixemos que estas palavras penetrem profundamente nas nossas almas. Que elas sejam uma âncora nas tempestades da vida. Reconheçamos que, mesmo quando nos sentimos mais sós, mais vulneráveis, o amor de Deus rodeia-nos, protege-nos e dá-nos força. Como uma galinha que protege os seus pintainhos, Deus deseja o nosso bem, oferecendo-nos conforto e força.

Voltemos, pois, o nosso coração para Jesus, que é o coração inabalável do amor. Ofereçamos as nossas ansiedades e alegrias, os nossos triunfos e fracassos, Àquele que já venceu tudo. Confiemos na Sua presença infalível e deixemos que o Seu amor seja a força orientadora das nossas vidas. Porque no Seu amor encontramos a nossa verdadeira força, a nossa esperança duradoura e a nossa paz eterna. Amén.

29 outubro 2025

Dia 29 - outubro missionário 2025

 Quarta-feira, 29 de Outubro de 2025

XXX Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)

Rm 8, 26-30; Sl 12; Lc 13, 22-30

 

Irmãos e irmãs, amados filhos de Deus, olhai à vossa volta. Vede os rostos cheios de esperança, de saudade, da força tranquila que nos faz avançar todos os dias. Sintam o bater dos vossos corações, um ritmo de vida que vos foi dado como um dom precioso. Hoje, estamos na presença da maravilha, olhando para o coração sem limites do nosso Criador. Que as palavras que acabámos de ouvir nas leituras deste dia não soem apenas nos nossos ouvidos, mas ressoem nas profundezas do nosso ser, despertando um sentido de maravilha que mudará para sempre a forma como vemos o mundo e o nosso papel no contexto do Ano Jubilar da Esperança, durante o qual somos convidados a ser missionários de esperança.

Neste ano jubilar de esperança, estes suspiros assumem uma nova dimensão. Não são apenas o eco das nossas lutas individuais, mas também do anseio colectivo da humanidade pela cura, pela reconciliação, pelo cumprimento das promessas de Deus. Este momento é um convite a escutarmos mais intensamente essa voz interior, os sussurros do Espírito que nos guiam para uma maior esperança, para uma compreensão mais profunda da vontade de Deus, para as nossas vidas e para o nosso mundo. Este ano recorda-nos que, mesmo quando nos sentimos sem voz perante desafios esmagadores, o Espírito de esperança intercede por nós, levando os nossos desejos mais profundos ao coração de Deus.

O convite do Evangelho de Lucas a “esforçarmo-nos” incita-nos a não sermos complacentes, a não tomarmos este ano de graça como garantido. Lembra-nos que a esperança não é uma espera passiva, mas um compromisso activo com a vontade de Deus. Somos chamados a avaliar as nossas vidas, para nos assegurarmos de que estamos verdadeiramente a percorrer o caminho da rectidão, do amor e da justiça. A «porta estreita» pode ser vista como o esforço concentrado necessário para abraçar o poder transformador deste Jubileu, para abandonar velhos hábitos e abraçar as novas possibilidades que Deus nos oferece.

Deixemos que a admiração suscitada pelas leituras se instale profundamente em nós. Deixemos que os gemidos indizíveis do Espírito nos recordem a presença íntima de Deus. Deixemos que a viagem do salmista, do desespero à alegria, acenda a nossa confiança no amor infalível de Deus. E que a visão de Jesus do Reino universal nos inspire a esforçarmo-nos com todo o nosso ser para entrar pela «porta estreita», com os nossos corações abertos a todos, reconhecendo que no Reino de Deus os últimos podem de facto ser os primeiros. Amén.

28 outubro 2025

Dia 28 - outubro missionário 2025

 

Terça-feira, 28 de Outubro de 2025

XXX Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)

Santos Simão e Judas, apóstolos – FESTA

Ef 2, 19-22; Sl 18; Lc 6, 12-16

 

[1]Por ocasião da festa dos Santos Simão e Judas, as leituras de hoje pintam um quadro belo e poderoso daquilo que somos chamados a ser, não como indivíduos isolados, mas como uma comunidade viva, que respira, construída sobre o fundamento da fé. Tal como o universo proclama silenciosamente a glória de Deus, também nós somos chamados a deixar que as nossas vidas falem do Seu amor, não só dentro dos muros da nossa igreja, mas em todos os cantos das nossas vidas, chegando àqueles que ainda não ouviram a Boa Nova.

No Evangelho, Jesus, depois de uma noite de oração, fonte da Sua missão, escolhe os Seus doze Apóstolos, entre os quais estão Simão e Judas. Este acto sublinha a verdade fundamental de que a missão é comunhão.

É importante notar que os doze Apóstolos não eram pessoas perfeitas: eram pescadores, cobradores de impostos, indivíduos com diferentes origens e, certamente, com opiniões muito diferentes. No entanto, Jesus viu neles o potencial para serem os pilares da Sua nova comunidade, uma comunidade que levaria a Sua mensagem de amor e salvação até aos confins da terra.

Isto leva-nos ao discipulado missionário, pelo qual somos chamados e enviados a partilhar a Boa Nova, não como pregadores perfeitos, mas sendo nós próprios, procurando mostrar o amor e a bondade. Não somos enviados sozinhos. Fazemos parte de uma comunidade maior, o Corpo de Cristo, e a nossa missão é reforçada e sustentada pela nossa comunhão com Deus e uns com os outros. As nossas paróquias, as nossas pequenas comunidades cristãs, as nossas famílias são as redes vitais em que nos apoiamos e encorajamos mutuamente na nossa missão partilhada. Avançamos juntos, testemunhando o amor de Deus através das nossas palavras e acções, da nossa oração partilhada e do nosso apoio mútuo.

Por isso, assumamos o nosso papel de pedras vivas, imitando os santos Simão e Judas que hoje celebramos, que partilharam o amor de Deus de formas únicas, apoiando-se mutuamente, em comunhão, e sempre com a alegre esperança de que Deus está a construir algo de belo. Lembremo-nos de que cada acto de bondade, cada palavra de encorajamento, cada esforço para construir a justiça e a paz é um tijolo na casa de Deus, um testemunho da esperança que nos anima. Vamos em frente, inspirados pelo exemplo de Jesus e capacitados pelo Espírito Santo, para sermos discípulos missionários que, através das nossas vidas vividas em comunhão, levam a luz de Cristo e a esperança inabalável do Evangelho a todos. Amén.

 



[1] Os comentários de 28 a 31 de Outubro foram fornecidos pelo P. Bonaventure S. M. Luchidio, director nacional das OMP-Quénia, a quem agradecemos.

27 outubro 2025

Dia 27 - outubro missionário 2025

 Segunda-feira, 27 de Outubro de 2025

XXX Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)

Rm 8, 12-17; Sl 67; Lc 13, 10-17

 

O Evangelho apresenta o grande drama de uma mulher que estava doente havia 18 anos. O seu sofrimento era duplo: não era apenas físico, mas também espiritual. Ela era uma escrava do espírito de desamparo, acorrentada por ele e dobrada sobre si mesma. Em vez do Espírito de Deus, ela estava curvada pelo o espírito daquele que tenta a todo o custo destruir em nós a imagem e semelhança de Deus. Por isso, a pobre mulher não conseguia endireitar-se e olhar para o céu. Ela estava curvada sobre si mesma e sobre as suas coisas mundanas. A liberdade está somente no Espírito de Deus: só Ele pode libertar-nos do medo, da angústia e da depressão espiritual. Só o Espírito Santo nos permite olhar para o céu com a alegria e a liberdade de filhos de Deus.

Jesus libertou a mulher da sua enfermidade e restaurou a sua dignidade. Mas, nem todos gostaram do bem que Ele fez. As frias regras da Lei queriam prevalecer sobre uma atitude humana e natural do coração: ajudar os outros. Jesus não Se envolveu na discussão com o chefe da sinagoga. Ele demonstrou a sua hipocrisia com argumentos simples, e as Suas palavras alcançaram aqueles que murmuraram e O criticavam vergonhosamente.

Um discípulo missionário é aquele que olha para o céu, que se foca em Deus e não em si mesmo, e com a ajuda da Sua graça é capaz de mostrar às pessoas a verdade do Evangelho que ele testemunha por meio de um discurso calmo e de actos de bondade. O discípulo missionário não esquece a sua dignidade de filho de Deus e procura lembrá-la e devolvê-la aos outros. Hoje, no mundo há muitos escravos do próprio egoísmo, do desejo de poder, de posse e de dinheiro. Eles esqueceram-se de quem são verdadeiramente e só olham para o ter. O nosso trabalho é levar-lhes o espírito do Evangelho de Deus. Não é uma tarefa fácil, mas não estamos sozinhos. Ao nosso lado está o E

26 outubro 2025

Dia 26 - outubro missionário 2025

 

Domingo, 26 de Outubro de 2025

XXX Domingo do Tempo Comum – Ano C

Sir 35, 15b-17.20-22a; Sl 33; 2 Tm 4, 6-8.16-18; Lc 18, 9-14

 

O ensinamento do sábio Ben Sirá, herdeiro da milenar doutrina profética da justiça e do amor preferencial de Deus pelos pobres e oprimidos, conduz aos cumes da verdadeira espiritualidade bíblica. O Deuteronómio advertiu-nos de que Deus «não faz acepção de pessoas» e «não favorece ninguém em prejuízo do pobre» (Dt 10, 17), ao contrário dos homens, que têm os seus favoritismos baseados em preconceitos sociais, raciais ou ideológicos, prejudicando a vida dos humildes. Esta doutrina será largamente aplicada por Jesus na Sua práxis de pregação e de libertação, tal como pelos apóstolos e pelos evangelistas, que a registaram nos seus escritos e a difundiram universalmente. Na Sua infinita misericórdia, Deus nunca falta ao encontro com todos aqueles que, conscientes dos seus próprios defeitos e debilidades, procuram a Sua ajuda e o Seu perdão. Aos soberbos, pelo contrário, deixa-os vaguear, confusos, nos orgulhosos pensamentos do seu coração.

A parábola que Jesus contou a propósito do publicano e do fariseu mostra a Sua maneira de ver as pessoas, que é a forma correcta do olhar de Deus, porque Ele não julga pelas aparências nem com base em preconceitos, mas por aquilo que vê com clareza nas profundezas do coração humano, discernindo a verdadeira motivação que gera as acções e as orações das pessoas.

Com efeito, encontramos pela primeira vez a declaração do sábio Ben Sirá, segundo o qual «Deus não faz acepção de pessoas», na boca dos adversários de Jesus que, embora estivessem a conspirar contra Ele, tiveram de reconhecer publicamente a Sua perfeita integridade moral, dizendo: «Mestre, sabemos que falas e ensinas com rectidão e não tens em consideração as aparências, mas ensinas o caminho de Deus de acordo com a verdade» (Lc 20, 21; cf. Mt 22, 16). É este o caminho de Deus, que Jesus praticou e ensinou. É uma práxis evidente, não só na forma como Ele Se aproxima das pessoas humildes e daquelas que são excluídas e marginalizadas por serem consideradas pecadoras, como as prostitutas e os publicanos, ou impuras e malditas, como os leprosos, mas que se distingue em toda a sua acção evangelizadora, abatendo todas as barreiras da discriminação, quer religiosa quer social ou racial. Jesus, com efeito, aceita escutar o humilde pedido do centurião romano e vai a sua casa curar o seu servo. Além disso, nas Suas viagens contínuas como Mestre itinerante, visita a região dos samaritanos e muitas vezes os elogia. Entrando nos territórios pagãos, chega à região de Tiro e cura a filha de uma mulher siro-fenícia. Atravessando para o outro lado do lago de Tiberíades, encaminha-Se para a Decápole e cura pessoas atingidas por várias doenças. As repetidas travessias do lago da Galileia revelam o poder de Jesus sobre a realidade, simbolicamente significada pelo mar: Ele é capaz de acalmar a sua força ameaçadora e de caminhar sobre o seu abismo. O mar aterrador, símbolo das forças do mal, deixa de ter uma função de separação, transformando-se numa ponte e, através do ministério de Jesus, realiza a reconciliação das duas partes: a judaica e a pagã.

Na sinagoga de Nazaré – onde tinha apresentado o programa do Seu ministério –, Jesus tinha desafiado os Seus ouvintes sobre a posição de Israel em relação aos outros povos considerados não-eleitos. Com efeito, os presentes tinham reagido de forma negativa, condenando a Sua afirmação sobre o cumprimento das profecias. O exemplo de Elias, que foi enviado à viúva fenícia, e de Eliseu, que curou o leproso sírio, Naamã, foram suficientes para demonstrar que Deus não faz acepção de pessoas, mas que todas as criaturas são preciosas aos Seus olhos. Como diz o salmista: «O Senhor é muito bom para todos, a Sua ternura abraça toda a criatura. Ele está próximo de todos aqueles que O invocam com sinceridade (cf. Sl 145, 17-18). O salmista não menciona qualquer raça ou nacionalidade específica nem o estado ou a cor da pele. Se o amor de Deus permeia todas as criaturas, é porque todas elas são obra Sua e, portanto, o Seu amor é um amor universal, cheio de solicitude para com todos os seres humanos, sem discriminação alguma.

Isso não nega o facto de Israel ter sido escolhido por Deus para entrar numa relação especial de aliança com Ele. Essa eleição, porém, estava em função de uma missão específica em favor de todos os povos, como testemunho da presença do Deus vivo na história como libertador dos oprimidos e salvador do ser humano em toda a sua realidade: «Vós sois as Minhas testemunhas – oráculo do SENHOR, os meus servos, a quem Eu escolhi, para Me conhecerdes e acreditardes em Mim e para compreenderdes que Eu sou o mesmo! Antes de Mim não foi formado qualquer deus e depois de Mim também não existirá» (Is 43, 10) Com efeito, Deus não só escolheu o Seu servo, mas também o constituiu e instruiu: «Eu, o SENHOR, chamei-te na justiça e segurei-te pela mão; formei-te e estabeleci-te como aliança do povo e luz dos povos, para abrir os olhos dos cegos, para fazer sair da prisão os prisioneiros e da masmorra os que moram nas trevas» (Is 42, 6-7) Analisando mais a fundo o ensinamento de Jesus na parábola do publicano e do fariseu no Templo, apercebemo-nos de que o que faz a diferença é precisamente aquilo que se encontra no coração humano posto a nu pela presença de Deus na oração.

Seja como for, é com a intenção de rezar que o publicano e o fariseu se dirigem ao Templo, partilhando assim, por uns instantes, o mesmo lugar sagrado. No entanto, será o modo particular como cada um deles concretizará essa intenção que determinará o seu destino respectivo e o seu estado espiritual final. O publicano, tendo tido a humildade e a sinceridade de reconhecer a sua indignidade e o seu pecado e de implorar o perdão de Deus, regressa a casa como um homem melhor, interiormente transformado, reconciliado: frente à sua oração autêntica, a graça divina não se fez esperar. Mais uma vez se verificou que «todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado» (Lc 18, 14b).

O fariseu, pelo contrário, é prisioneiro da sua torre de orgulho espiritual. Demasiado consciente das suas próprias obras pias meritórias e da excelência da sua classe sócio-religiosa, julga-se superior e melhor do que todos os outros, levantando barreiras entre si e eles, insultando-os e desprezando-os. Ele talvez fosse bom e piedoso até àquele momento, mas a atitude manifestada revelou a arrogância presente no seu coração, minando a sua suposta virtude a partir do seu interior.

Por isso, não nos devemos colocar diante de Deus, no Templo, para nos auto-celebrarmos e contemplarmos numa postura auto-referencial, olhando os outros de cima para baixo. Devemos colocar-nos diante d’Ele para um encontro de amor e para encontrarmos os outros n’Ele. Nesse sentido, a oração é contemplação do Senhor, celebração das maravilhas que a Sua graça realiza em cada dia no seio da fragilidade humana, celebração da Sua incansável misericórdia, que reanima aquele que está caído e que deseja levantar-se.

Escutando esta parábola, a tentação imediata poderia ser metermo-nos na pele do publicano, simplesmente porque ele é visto numa luz positiva. E se isso acontecesse, seria sinal da enganosa mania humana de tranquilizar a consciência. Por outro lado, a parábola convida-nos a olhar para dentro de nós, a fim de removermos toda a nossa auto-suficiência e todo o nosso desprezo pelos outros, a fim de reencontrarmos um coração simples, humilde e fraterno, que saiba pousar sobre si próprio e sobre os outros um olhar misericordioso e cheio de esperança. Nesse sentido, devemos interrogar-nos com frequência sobre o modo como rezamos. O que nos revela o mesmo sobre a profundidade e a qualidade do nosso coração? O que nos revela sobre nós próprios, sobre a maneira como nos relacionamos com os outros, como os vemos espontaneamente na sua relação connosco? O que nos revela da nossa relação com Deus e com a Sua salvação?

O Papa Francisco recorda-nos frequentemente a centralidade da oração para a Igreja e para a sua missão. A oração é a alma da missão: quase como se dissesse que a eficácia do encontro pessoal com Cristo, a justa medida da relação consigo mesmo e com o mundo à luz do Espírito Santo, estão na raiz da experiência da verdade que salva. O discípulo missionário, graças à oração, inclui-se sempre a si próprio no número daqueles que necessitam da salvação que é chamado a anunciar e dos sacramentos que deve comunicar. A verdade é que a missão de evangelização que nos é confiada enquanto Igreja não poderia ser conduzida com verdade se adoptássemos uma atitude dominadora no encontro com os outros, seguros e convencidos da nossa superioridade moral e religiosa. A missão deve ser uma humilde proposta da amizade de Cristo, no respeito infinito pela liberdade religiosa dos homens e das mulheres da nossa época, das suas culturas e da sua história. Verdadeira humildade nunca é ausência de verdade. É, antes, presença eficaz de uma verdade que julga, perdoa e salva quem anuncia e os seus interlocutores.

 

25 outubro 2025

Dia 25 - outubro missionário 2025

 

Sábado, 25 de Outubro de 2025

XXIX Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)

Rm 8, 1-11; Sl 23; Lc 13, 1-9

 

O ensinamento de Jesus, no Evangelho de hoje, começa por uma notícia que Lhe é dada por pessoas anónimas: o caso de vários galileus massacrados por Pilatos, enquanto ofereciam um sacrifício no Templo. A condenação não só é executada dentro das muralhas do Templo, mas, ainda por cima, o sangue humano é misturado com o dos animais sacrificados, o que provoca uma grande vergonha e indignação. Não é claro o motivo pelo qual as pessoas contam este episódio a Jesus. Talvez porque, sendo Jesus um galileu, O tivessem querido pôr de sobreaviso – precisamente como acontece imediatamente a seguir, por causa da perseguição de Herodes Antipas, que O queria matar. Ou então, tratava-se de uma sórdida ameaça, porque, se Jesus tivesse sido denunciado ao procurador romano, talvez tivesse sofrido a mesma sorte; ou, pura e simplesmente, pelo gosto de bisbilhotar sobre as tragédias alheias: as pessoas que se alegram com os males dos outros deviam calar-se; aqueles que rejubilam com as doenças dos outros deveriam ter vergonha.

A resposta de Jesus, porém, leva-nos a pressupor a presença de qualquer coisa ainda mais grave nessa gente: um juízo condescendente em relação às vítimas, como se estas merecessem morrer dessa forma tão violenta, no momento sagrado da adoração a Deus; como se a brutalidade dos romanos fosse um juízo de Deus contra aqueles que tinham sido mortos. Jesus não comenta o acontecimento, mas dá uma lição àqueles que Lhe falam daquele triste episódio: a ninguém é permitido interpretar o sofrimento, a doença, os acidentes e as tragédias dos outros como castigo divino pelos pecados cometidos, mas cada um deve considerar os seus próprios pecados como a pior desgraça e tentar converter-se com sincero arrependimento. A ninguém foi dada autoridade para julgar e dividir as pessoas, classificando-as como “boas” ou “más”. Só o Senhor conhece toda a verdade dos nossos corações.

Mal a notícia Lhe é comunicada, Jesus rejeita imediatamente a leitura segundo a qual haveria uma ligação causal entre a morte violenta e a enormidade do pecado. Jesus quer sublinhar que os incidentes não revelam necessariamente a gravidade de algum pecado escondido da pessoa que deles é vítima, mas são como que advertências, recordando-nos que a morte pode bater sempre à nossa porta, e sobretudo quando menos o esperamos. Daí a tomada de consciência de que cada um deve despertar para a necessidade e a urgência da conversão interior, que deve ser aceite e posta em prática antes que seja tarde demais. É por isso que Jesus, rejeitando a ideia de que os judeus massacrados por Pilatos e as dezoito pessoas esmagadas pelo desmoronamento da torre de Siloé possam ser considerados mais pecadoras do que as outras, prossegue o Seu discurso dando a entender que se aqueles que O escutam não se converterem, poderão perecer do mesmo modo. Converter-se, não porque o seu arrependimento os protegeria da morte, mas porque a conversão dispõe bem a pessoa, tanto espiritual como humanamente, para o encontro com o Senhor da vida, em total paz e serenidade de coração. Se a conversão pode libertar da morte, é da morte eterna, e não já do desaparecimento físico. A imagem de Deus subjacente à ideia segundo a qual a morte violenta revelaria um grave pecado da vítima não corresponde ao Deus-Pai revelado por Jesus. Ele não é um Deus que Se vinga dos pecadores, mas um Deus paciente, que espera, concedendo o tempo necessário, até que, a um dado momento, a humanidade acabará por se aperceber do amor louco com que é amada, o que lhe trará os frutos do amor fraterno e da solidariedade que espera.

De qualquer modo, é esta a perspectiva indicada pela parábola, o ponto teológico que ela dramatiza com a ajuda da história de um homem, da sua figueira e da sua vinha. Desiludido por não ter recebido os frutos que tinha o direito de esperar, ao fim de tantos anos de cuidados e de trabalho, o homem decide cortar a sua figueira pois não seria bom continuar a deixá-la esgotar a terra em vão. Para sua surpresa, porém, o seu vinhateiro intervém, intercedendo por que seja concedida àquela figueira uma prorrogação, o tempo necessário para verificar se, trabalhando e adubando a terra, a situação não poderia mudar. A sequência da história não é contada, mas a execução do veredicto parece ter sido suspensa; tal facto abre caminho à esperança. Se nos virmos reflectidos na imagem da figueira, a boa notícia é que o tempo de vida que nos é dado pelo Senhor do universo abre-nos um espaço para deixarmos que a graça divina actue e produza os seus frutos de paz, de alegria, de justiça e de amor em nós. É um presente, uma espécie de segunda oportunidade, agora sem margem de erro. Por outro lado, se somos representados pela figura do vinhateiro, devemos entrever nela a nossa parte de intercessão e os esforços que devemos fazer como contributo a oferecer pela conversão alheia. Como comunidade eclesial, é evidente que somos chamados a um duplo empenho: convertermo-nos sem desanimar, tornando-nos cada vez mais transparentes frente à palavra de Deus e dóceis ao Espírito de amor que vivifica; e prodigalizarmo-nos pela conversão do mundo, sem ofuscar o rosto misericordioso e paciente de Deus, Pai de Jesus Cristo, cuja primeira e única vontade é salvar e não condenar. Mostra a experiência que se pode obter do coração humano, transmitindo-lhe confiança: não conquistamos as pessoas para o amor divino metendo-lhes medo ou aprisionando-as nas suas desgraças. Possa esta pedagogia guiar a nossa acção missionária sem que isso atenue a sua perspicácia profética ou a sua profunda compreensão da natureza humana e do conteúdo da salvação.

A imagem da figueira plantada na vinha talvez sugira que o Reino de Deus (a vinha) é muito maior do que Israel ou do que Jerusalém, representados pela figueira. Assim, Jesus, o Messias, o divino viticultor, veio procurar na Cidade Santa frutos de misericórdia, de justiça e de fidelidade. São estes os frutos que agradam a Deus, os frutos esperados pelo “proprietário da vinha”. Contudo, o tempo está a chegar ao fim e a decisão de cortar a figueira é tomada, visto não terem sido encontrados esses frutos. Também é este o significado do episódio da figueira estéril de Marcos (Mc 13, 28) e de Mateus (Mt 21, 18-22; 24,32), que levou à maldição da árvore.

Surpreendentemente, porém, na parábola de Lucas, é o viticultor que intercede junto do proprietário, para que tenha um pouco de paciência com a sua figueira e, portanto, para que tenha misericórdia de Jerusalém. E como se isso não bastasse, ele próprio se empenha em fazer todos os possíveis por tornar frutífera essa árvore tão amada. Porque decerto, como o profeta Ezequiel declara na aclamação do Aleluia, Deus não sente prazer pela morte dos malvados; pelo contrário, deseja a sua conversão, para que possam abandonar o seu percurso errado e a sua vida de pecado. «Convertei-vos do vosso mau comportamento! Porque quereis morrer, israelitas?» (Ez 33, 11) Infelizmente, o convite à conversão não foi aceite, as advertências não foram escutadas, os sinais não foram entendidos, e o tempo da graça não foi aproveitado. No entanto, antes que se verificasse a tragédia final de Jerusalém, Jesus, a própria Árvore da Vida, aceitou ser cortada a fim de que a raiz de todos os males acabasse por ser extirpada e pudesse germinar no nosso coração, vivificando-o eternamente com a seiva do Espírito Santo.

 

24 outubro 2025

Dia 24 - outubro missionário 2025

 

Sexta-feira, 24 de Outubro de 2025[1]

XXIX Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)

Rm 7, 18-25a; Sl 118; Lc 12, 54-59

 

Se alguém nos perguntasse onde, com que sinais e de que modo o Senhor está presente entre nós, provavelmente responderíamos imediatamente: na Palavra de Deus e na Eucaristia. Isto é certamente verdade, mas não esqueçamos que Deus é o Deus do tempo e da história. Ele está presente nos acontecimentos, nas pessoas, em tudo o que nos rodeia todos os dias. Não é fácil reconhecer os sinais desta presença divina; é certamente muito mais difícil do que prever o tempo. É preciso muita humildade, abertura ao Espírito Santo e prudência. O discernimento da acção de Deus na história e na realidade deve fazer-se sempre na oração, com a ajuda do Espírito Santo e, sobretudo, na Igreja! A confirmação deve ser pedida ao confessor, àqueles que nos acompanham na nossa vida espiritual, aos superiores... Aqueles que querem decidir por si mesmos o que é ou não é de Deus correm o risco de se tornarem escravos do seu próprio orgulho e de caírem na armadilha daquele espírito que se opõe sempre a Deus.

Hoje é Sexta-feira, o dia em que pensamos na paixão e morte de Jesus. Ali, na Cruz, teve lugar o acontecimento mais importante para toda a humanidade e o maior acontecimento da história do mundo: a redenção da humanidade. Para os cristãos, a Cruz é um sinal evidente deste acontecimento. São Paulo hoje agradece ao Senhor Deus por isso, porque sabe que sozinho não poderia fazer nada de bom. Naquela Sexta-feira, quando o sol escureceu e as trevas envolveram a terra, poucas pessoas foram capazes de interpretar esses sinais. O Senhor revela os segredos do Seu Reino apenas às pessoas de coração simples, às que não complicam as coisas, que não se defendem de Deus, mas que simplesmente O acolhem. Pedimos ao Senhor um coração simples e humilde, que saiba reconhecer todos os dias os sinais da Sua presença.


 



[1] As meditações dos dias 24-27 foram tomadas de anos anteriores.

23 outubro 2025

Dia 23 - outubro missionário 2025

 

Quinta-feira, 23 de Outubro de 2025

XXIX Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)

Rm 6, 19-23; Sl 1; Lc 12, 49-53

 

Na passagem do Evangelho de hoje, Jesus fala metaforicamente de incendiar a terra. Diz: «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda?» De que está Ele a falar? É compreensível que muitas pessoas fiquem impressionadas com as palavras de Jesus sobre incendiar a terra. Que tipo de fogo poderia Jesus ter em mente? Como todos sabemos, o fogo dá luz, calor, purifica e limpa; pode polir metais e muito mais. Nos tempos bíblicos, o fogo estava simbolicamente associado à presença e à acção de Deus no mundo e na vida do Seu povo.

Por exemplo, no Antigo Testamento, Deus manifestou por vezes a Sua presença através do fogo, como no caso da sarça ardente que não se consumiu quando Deus falou a Moisés (Ex 3, 2). A imagem do fogo foi também utilizada para simbolizar a glória de Deus (Ez 1, 4.13), a Sua presença protectora (2 Rs 6, 17), a Sua santidade (Dt 4, 24), o Seu justo juízo (Zc 13, 9), a Sua ira contra o pecado (Is 66, 15-16), e a Sua palavra foi também comparada ao fogo (Jr 23, 29). Também no Novo Testamento, a influência do Espírito Santo é comparada a um fogo (Mt 3, 11) e a Sua descida tem sido associada ao aparecimento de línguas como fogo (Act 2, 3).

O Evangelho de hoje diz-nos o que Jesus quer que façamos concretamente. Ele quer que nos ‘incendiemos’ com o Seu amor e a Sua presença na nossa vida, porque o Seu fogo de amor queima todas as impurezas do pecado, purifica-nos e torna-nos santos. O amor é a Sua expressão máxima, como o prova a Sua paixão e a Sua morte.

E assim, através deste fogo de amor e de presença, Jesus quer transformar-nos de meros frequentadores de igrejas e observadores passivos em cristãos totalmente empenhados e activos, dispostos e abertos a segui-l’O e a imitá-l’O, sendo ao mesmo tempo obedientes a Deus e trabalhando para Ele e até morrendo por Ele como discípulos no mundo. Ele também quer tornar as nossas vidas instrumentos visíveis do Seu amor, bondade, compaixão e salvação para todo o mundo.

Rezemos para que, através do amor e da presença de Cristo nas nossas vidas, possamos ter uma mente que pense como Jesus, uma mão que trabalhe como Jesus, um coração que ame como Jesus, um olho que veja as pessoas em necessidade como Jesus, uma boca que diga palavras como Jesus e uma vida que seja exactamente como a de Jesus. Que este fogo acenda o nosso zelo pela missão.

22 outubro 2025

Dia 22 - outubro missionário 2025

 

Quarta-feira, 22 de Outubro de 2025

XXIX Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)

Rm 6, 12-18; Sl 123; Lc 12, 39-48

 

As leituras de hoje convidam-nos a reflectir sobre a importância da fidelidade e da responsabilidade na nossa vida de cristãos. Para além do grupo de bem-aventuranças bem conhecidas, há bem-aventuranças individuais espalhadas pelos Evangelhos. Uma delas encontra-se no Evangelho de hoje. Jesus proclama: «Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado.» Trata-se do servo «fiel e prudente», que provê às necessidades dos membros da família quando o dono da casa está ausente. Jesus ensina-nos a importância de estarmos preparados e de sermos fiéis, utilizando a imagem de um senhor que regressa para junto dos seus servos. Jesus sublinha a importância de sermos fiéis e responsáveis, não só para o nosso próprio bem, mas também para o bem dos outros. Ele diz que o servo fiel e responsável será abençoado e o servo que não o for será responsabilizado.

A relação senhor-escravo não é um tema com que nos sintamos confortáveis hoje em dia. No entanto, era uma parte integrante do mundo em que Jesus viveu. Ao partilhar a Sua visão da vida humana, Jesus recorria regularmente à experiência quotidiana das pessoas com quem entrava em contacto. Embora o contexto social que Ele retratou possa parecer distante da nossa experiência actual, a mensagem que Ele encarnou mantém a sua validade para os discípulos de todas as épocas. Todos nós procuramos ser servos fiéis e sábios do Senhor. Ele precisa de tais servos, pessoas em quem pode confiar para prover às necessidades de todos os membros da Sua família. Somos todos servos de um só Senhor, o que significa que nenhum de nós se pode arvorar em senhor dos outros. Pelo contrário, a nossa tarefa é a de cuidar fiel e sabiamente das necessidades dos que nos rodeiam.

Na primeira leitura tirada da Carta aos Romanos, São Paulo ensina-nos que é importante viver uma vida de fidelidade e de responsabilidade. Segundo São Paulo, nascemos escravos do pecado, mas através do baptismo, que nos liberta, tornamo-nos escravos da justiça. Para sermos fiéis e responsáveis, temos de estar dispostos a fazer sacrifícios e a pôr as necessidades dos outros à frente das nossas. Temos de estar dispostos a correr riscos e a sair da nossa zona de conforto para cumprir a nossa missão de cristãos.

Hoje celebramos uma pessoa que encarnou a imagem de um servidor responsável e fiel: São João Paulo II. Foi um grande papa missionário, responsável e fiel à sua vocação. Viveu uma vida significativa e tocou a vida de muitas pessoas durante o seu pontificado. Saiu da sua zona de conforto em muitas ocasiões e viajou para diferentes países do mundo. Preparou-se e estava pronto quando o Senhor o chamou.

Ao reflectirmos sobre estas leituras, podemos perguntar-nos se estamos a viver uma vida de fidelidade e de responsabilidade. Estamos a ser fiéis à nossa vocação de cristãos e a assumir a responsabilidade pelas nossas acções? Rezemos para que possamos obter a graça de sermos fiéis e responsáveis, de vivermos uma vida que agrade a Deus e de ocuparmos o lugar que nos compete como servos do Senhor.

20 outubro 2025

Dia 20 - outubro missionário 2025

 

Segunda-feira, 20 de Outubro de 2025[1]

XXIX Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)

Rm 4, 20-25; Lc 1, 69-75; Lc 12, 13-21

As leituras de hoje convidam-nos a reflectir sobre a importância da fé e da confiança na providência de Deus. Na primeira leitura, tirada da Carta aos Romanos, São Paulo diz-nos que Abraão, nosso pai na fé, não vacilou na sua confiança na promessa de Deus, mesmo quando ela parecia impossível. Ele acreditou e isso foi-lhe creditado como justiça. A fé de Abraão não se baseava na sua força ou nos seus recursos, mas sim na sua confiança nas promessas de Deus. Ele confiava que Deus cumpriria as suas promessas, mesmo quando isso parecia impossível. E, por causa da sua fé, Abraão foi justificado e a sua fé foi-lhe creditada como justiça.

No Evangelho, Jesus ensina-nos os perigos da ganância e do materialismo. A um homem rico, que acumulou riquezas e bens, Deus diz que a sua vida lhe será pedida nessa noite. Jesus adverte-nos de que a nossa vida não consiste na abundância dos nossos bens; é por isso que chama a este homem insensato. Ele era insensato porque, se fosse sábio, teria feito duas coisas:

1) Teria agradecido a Deus por tê-lo abençoado com tanta abundância. Em vez de rezar a Deus, o homem rezou a si próprio. 2) Ter-se-ia apercebido de que tinha sido abençoado para abençoar os outros. Teria tido em conta os outros no seu projecto, mas foi ganancioso.

É interessante perguntar por que razão Jesus contou esta parábola a um homem que tinha vindo pedir a sua intervenção num litígio sobre uma herança. Jesus contou esta parábola para o tranquilizar: apesar de ter sido enganado, podia viver uma vida muito longa e feliz. Entretanto, o irmão ganancioso é como o homem rico, cuja terra rendeu abundantemente, mas se recusou a considerar os outros no seu projecto de usufruto. Se Deus chamasse aquela noite o irmão avarento, o que seria da herança que ele tinha acumulado?

Esta passagem do Evangelho recorda-nos a transitoriedade da vida terrena. Podemos acumular riquezas e bens, mas tudo é efémero, não dura. Não nos trarão a verdadeira felicidade nem realização pessoal. Só Deus nos pode dar a verdadeira felicidade e realização pessoal. Então, qual é o fundamento da nossa fé? Confiamos nas nossas forças e nos nossos recursos ou confiamos na providência de Deus? Acumulamos tesouros na terra ou procuramos acumular tesouros no céu?

Jesus sugere que a verdadeira riqueza não reside nos nossos bens materiais, mas na nossa relação com Deus. Quando confiamos na providência de Deus, somos livres de viver uma vida generosa, partilhando o que temos com os outros com compaixão e amor. Podemos pensar em acumular tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não os consomem. Que a nossa fé seja fortalecida e que sejamos guiados pelo Espírito Santo enquanto nos esforçamos por proclamar o Evangelho a todas as nações.


[1] Os comentários de 20 a 23 de Outubro foram fornecidos pelo P. Solomon Patrick Zaku, Director Nacional das OMP-Nigéria, a quem agradecemos.

19 outubro 2025

Dia 19 - outubro missionário 2025

 

Domingo, 19 de Outubro de 2025

Dia Mundial das Missões

XXIX Domingo do Tempo Comum – Ano C

Ex 17, 8-13; Sl 120; 2 Tm 3, 14-4,2; Lc 18, 1-8

 

As leituras de hoje falam sobre a importância, o poder da oração e dão dois exemplos.

1. Na 1ª leitura, diz-se que através do poder da oração, podemos vencer as nossas batalhas, triunfar sobre os nossos inimigos. A história do Livro do Êxodo é a seguinte: Os israelitas estavam em viagem, em direcção à Terra Prometida. Tiveram de passar pelo território de Amalec, uma tribo nómada que vivia no deserto do Sinai. Cansados da viagem, pediram água e os amalecitas, em vez de os ajudarem, atacaram e mataram os mais fracos que seguiam na retaguarda da caravana (Dt 25, 17-19).

O episódio de hoje refere-se a um dos primeiros confrontos com aquela tribo. O texto diz que Moisés ordenou a Josué que os atacasse, enquanto ele, juntamente com Aarão e Hur, subia à montanha para implorar a ajuda de Deus. Aconteceu que, enquanto Moisés tinha os braços erguidos em oração, Josué ganhava na luta, mas quando os baixava devido ao cansaço, os amalecitas prevaleciam. Para conseguir manter os braços de Moisés sempre erguidos em oração, Aarão e Hur mandaram-no sentar-se numa pedra e eles, um à direita e o outro à esquerda, mantinham os seus braços erguidos. Ficaram assim até ao anoitecer e Israel levou a melhor sobre os amalecitas. Fica claro que a vitória sobre Amalec não se deveu à espada de Josué, mas à oração de Moisés.

A passagem bíblica não é, obviamente, um convite para pedir a Deus poder para matar os inimigos, mas para enfrentar e vencer as batalhas espirituais que, como crentes, encontramos. O texto tem uma mensagem teológica: ensina-nos que aqueles que querem alcançar objectivos para além das suas forças devem rezar sem cessar. Há resultados que só podem ser obtidos através da oração. Os inimigos que somos chamados a enfrentar são: a ambição, o ódio e as paixões desordenadas. Sem a oração, estes inimigos prevalecerão sobre nós.

Moisés, com os braços erguidos, é o símbolo do crente, consciente de que precisa de implorar o poder de Deus, através da oração, porque sabe que «O nosso auxílio vem do Senhor, que fez o céu e a terra» (Salmo Responsorial).

2. No Evangelho, temos «uma parábola sobre a necessidade de orar sempre sem desanimarDiz-se que através da oração se faz justiça. O primeiro personagem da parábola é um juiz cujo dever era o de proteger os fracos e os indefesos, em vez de ser alguém sem sentimentos e sem compaixão. O segundo personagem é a viúva, o símbolo de uma pessoa indefesa e vulnerável a abusos. A viúva tinha sofrido uma injustiça e não tinha meios para defender a sua causa além de importunar repetidamente e obstinadamente o juiz.

O juiz, apesar de ser agnóstico e incapaz de se condoer com o sofrimento da viúva, acaba por atendê-la, não porque o seu coração se tenha tornado mais sensível, mas para não ser incomodado. Se assim é com um juiz de coração fechado, com muito mais razão de ser, Deus «prontamente» fará justiça «aos Seus eleitos que por Ele clamam dia e noite».

Com esta parábola, Jesus quer apresentar a situação dos discípulos neste mundo ainda dominado pelo mal e profundamente marcado pela morte. A injustiça é representada por abusos e fraudes cometidos contra os mais pobres. O que é que fazemos nestas situações? A parábola recomenda: rezar sempre, sem cessar. A oração é o melhor meio para não perdermos a cabeça nos momentos mais difíceis e dramáticos, quando não vemos saída para as situações, quando tudo parece ser contra nós.

A verdadeira oração é um diálogo com o Senhor – para avaliar a realidade, os acontecimentos, as pessoas e os critérios de julgamento. Examinamos com Ele, com a ajuda das Escrituras, os nossos pensamentos, sentimentos, reacções e planos. Na oração, discernimos o que devemos fazer. Ao rezar, somos levados a comprometer-nos com a transformação social e a fazer a nossa parte para instaurar o Reino de Deus que é um Reino de justiça e fraternidade.

Devemos rezar não tanto para que Deus faça agora o que Lhe pedimos, mas para que a nossa fé não se apague e a pergunta final de Jesus («Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?») tenha uma resposta positiva.

3. A oração é o guia e a força da missão. A Igreja celebra hoje o 99º Dia Mundial das Missões, em que somos convidados, de um modo particular, a rezar pela missão da Igreja em todo o mundo e a sentirmo-nos parte dela – especialmente através da nossa oração, da forma como vivemos e testemunhamos Jesus, e da ajuda monetária, que se destina inteiramente a apoiar o trabalho de evangelização entre as comunidades mais jovens e necessitadas.

Para este dia de oração e compromisso com a missão universal da Igreja, o Papa Francisco escreveu uma mensagem intitulada Missionários de esperança entre os povos, “que recorda a cada um dos cristãos e a toda a Igreja, comunidade dos baptizados, a vocação fundamental de ser mensageiros e construtores da esperança nas pegadas de Cristo.”

O Papa Francisco lembra como Jesus, “o divino Missionário da esperança”, «na Sua vida terrena, “andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos” pelo mal e pelo Maligno (cf. Act 10, 38), restituindo a esperança em Deus aos necessitados e ao povo»; e exorta-nos a que nos deixemos inspirar para nos pormos a caminho “seguindo os passos do Senhor Jesus, para nos tornarmos, com Ele e n’Ele, sinais e mensageiros de esperança para todos, em qualquer lugar e circunstância que Deus nos concede viver.”

O Santo Padre insiste na necessidade e urgência de continuarmos “o Seu ministério de esperança em favor da humanidade”: “Hoje, perante a urgência da missão da esperança, os discípulos de Cristo são os primeiros convocados a formar-se para serem “artesãos” de esperança e restauradores de uma humanidade, frequentemente, distraída e infeliz.”

A esperança nasce, alimenta-se e renova-se na oração. A missão da esperança só é possível na oração, “sobretudo daquela que se faz com a Palavra de Deus e, de modo particular, com os Salmos, que são uma grande sinfonia de oração cujo compositor é o Espírito Santo (cf. Catequese, 19 de Junho de 2024)”, recorda-nos o Papa na sua mensagem.

Depois de nos alimentar, a Palavra de Deus deve ser usada para alimentar os outros. Por isso, São Paulo diz a Timóteo: «Proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina» (segunda leitura). Porque a Palavra não transmite apenas um saber, mas tem o poder de dar «a sabedoria que leva à salvação».

Não nos esqueçamos, por isso, de nos alimentarmos com a Palavra de Deus, a grande fonte de sabedoria, auto-conhecimento e esperança, e de rezar pelo trabalho missionário da Igreja em todo o mundo. Sejamos missionários desde logo através da nossa oração!


 

18 outubro 2025

Dia 18 - outubro missionário 2025

 

Sábado, 18 de Outubro de 2025

XXVIII Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)

São Lucas, evangelista – FESTA

2 Tm 4, 10-17b; Sl 144; Lc 10, 1-9

 

A Igreja celebra hoje a festa de S. Lucas evangelista, um médico natural de Antioquia, na Síria. Convertido ao cristianismo, tornou-se um colaborador de S. Paulo, a quem acompanha nas suas viagens missionárias, enquanto outros o tinham abandonado, por cansaço ou por medo, como lemos na carta de Paulo a Timóteo. Lucas foi o autor do terceiro evangelho e dos Actos dos Apóstolos, e também um dos responsáveis pela acção missionária nos primeiros tempos da Igreja.

O Evangelho narra o envio em missão – para preparar a chegada de Jesus – dos setenta e dois discípulos, um episódio que aparece apenas em S. Lucas. Jesus, depois de ter enviado os Doze em missão (Lc 9, 1ss), envia também estes 72 discípulos, a quem dá instruções claras de como hão-de fazer e ser missão. Jesus pede-lhes que vão pobremente de modo que experimentem a sua dependência, aceitando a hospitalidade que lhes é oferecida, e confiem apenas na força da mensagem que levam – e não no poder dos meios que eventualmente possam ter.

Lucas une a missão dos setenta e dois discípulos à oração, quando diz: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a Sua messe». A missão começa com a oração; sem oração não há missão. Ao pedirmos a Deus mais trabalhadores para a Sua missão, abrimo-nos à Sua inspiração e impulso, que são os meios indispensáveis para nos tornarmos nos colaboradores que Ele precisa. Por isso, a oração é a primeira acção missionária, como nos recordou o Papa Francisco.

A missão é uma das grandes preocupações de S. Lucas. Ele é o evangelista da oração, da misericórdia e do perdão. Apresenta Jesus como o amigo dos pecadores e o consolador dos que sofrem. A salvação destina-se a todos, mas preferencialmente aos pobres, doentes, excluídos, pecadores, mulheres e crianças, pois Jesus «veio procurar e salvar o que estava perdido» (Lc 19, 10). Nos Actos dos Apóstolos, Lucas narra como a salvação de Jesus, de Jerusalém chega aos confins da terra, graças ao testemunho dos Apóstolos e dos primeiros cristãos e à força do Espírito Santo, o grande protagonista da missão.

Nós, discípulos de hoje, continuamos esta missão de salvação, ao fazermos o que podemos para que o perfume de Cristo e do seu Evangelho chegue a todos.